segunda-feira, janeiro 30, 2006

Inferno Dourado - Parte 2

Cubro o corpo do homem, já era noite e a única luz visível era proveniente das brasas no local. O cheiro de carne humana queimada já me deixa nauseado, resolvo me afastar do local, pensando ainda no que o finado marinheiro tinha me dito.
Não tive muito tempo para considerar o assunto.
"Parado!" -o grito estridente me fez voltar a realidade.
Um típico soldado Rakkiano se destacava frente a dezenas de outros soldados, todos igualmente hostis. O som da arrebentação das ondas havia me pregado uma peça, um regimento inteiro se aproximara sem sequer ser notado.
Como estava em clara desvantagem, obedeci. Os militares se aproximaram de mim ostentando suas espadas e gritando palavras do mais baixo calão. O mesmo homem que ordenou minha parada agora tinha meu pescoço ao alcance de sua espada.
"Seu rato imundo, saqueando e matando nossos marinheiros." -disse o soldado, com um olhar enfurecido.
"Não, houve um mal-entendido, eu estava apenas ajudando. Não fiz mal a nenhum de seus homens..." -tentei argumentar.
"Nós pudemos avistar o assassinato que cometeu. Agora você vai pagar na mesma moeda." -sem ao menos me dar chance para uma resposta, o oficial desferiu um golpe com destino certo, meu rosto.
Golpe esse, rapidamente desviado por um competente contra-ataque de minha espada, desembanhiada com a velocidade de quem luta pela própria existência. Aproveitando o momento, estiquei o braço, agarrando o agressor e posicionando minha espada a poucos centímetros da garganta do agora atônito soldado.
"Eu já disse, eu não matei ninguém. Aquele homem pediu por sua morte, e eu apenas cessei seu sofrimento. E, se vocês quiserem alguma informação sobre o que aconteceu, vão precisar de mim." -agora, em posição de barganhar, tento parecer seguro frente ao regimento.
"Não me mate. Não me mate. Nós vamos te escutar. Homens, abaixem as armas..." -gritou de forma acovardada o homem, que como eu acabara de perceber, era o líder dos outros homens. Um movimento de sorte, pura sorte.
Já acalmados pela liberação de seu capitão, os soldados aceitaram conversar. Depois das devidas apresentações, o assunto principal vem à tona:
"Pois bem, o que você estava fazendo aqui, e o que aconteceu com o navio e seus homens ? -perguntou o capitão. Da história que contei, suprimi apenas o que tinha me sido dito sobre o ídolo protetor da mina. Adicionei também uma pequena mentira, essencial para os meus planos de aportar na ilha junto aos soldados:
"Consegui também informações sobre aonde o acampamento dos assassinos estará montado, mas isso usarei como trunfo. Me levem junto que eu os indicarei."
Os soldados estavam crentes que meu objetivo era o ouro. Mas naquele momento, a idéia de que aquele ídolo fosse na verdade um dos dois artefatos Rorethianos que procuro me parecia muito mais atraente.
Mais dois dias se passaram até um outro navio Rikkiano aportar. Nesse tempo, tinha feito amizade com alguns soldados, principalmente o que todos chamavam de Ruivo. Era um homem muito forte, com um semblante fechado e na maioria das vezes hostil, mas, minha habilidade em me salvar da morte certa pelas mãos do capitão tinha o impressionado. Ele conversava basicamente sobre lutas e armas, mas era bem articulado e por algumas vezes, até divertido.
Me senti mal por estar enganando homens de bem, mas, eu tinha um objetivo maior.
Os soldados comemoraram a entrada no navio, com o seu grito de guerra particular, que mais parecia o urro de um urso raivoso do que com qualquer palavra que eu jamais tenha escutado. Podia perceber o clima de ódio e revanche para com os homens que organizaram o motim. A honra de um exército era a coisa mais valiosa naqueles tempos, disso eu sabia.

A viagem seria longa, entre cinco dias a uma semana. Isso porque não faríamos uma escala na Ilha de Lunne, como provavelmente os nossos inimigos iriam. Assim, teríamos uma desvantagem de apenas um dia, o suficiente para alcançá-los antes de entrar em perigoso território Kronniano.


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Mapa da região.

Fim da parte 2.